quinta-feira, 4 de março de 2010

LENDAS DE IROKO I

No começo dos tempos, a primeira árvore plantada foi Iroko. Iroko foi a primeira de todas as árvores, mais antiga que o mogno, o pé de obi e o algodoeiro. Na mais velha das árvores de Iroko, morava seu espírito. E o espírito de Iroko era capaz de muitas mágicas e magias. Iroko assombrava todo mundo, assim se divertia.

À noite saia com o alugbongbo na mão, assustando os caçadores. Quando não tinha o que fazer, brincava com as pedras que guardava nos ocos de seu tronco. Fazia muitas mágicas, para o bem e para o mal. Todos temiam IroKo e seus poderes e quem o olhasse de frente enlouquecia até a morte.

Numa certa época, nenhuma das mulheres da aldeia engravidava. Já não havia crianças pequenas no povoado e todos estavam desesperados. Foi então que as mulheres tiveram a idéia de recorrer aos mágicos poderes de Iroko.

Juntaram-se em círculo ao redor da árvore sagrada, tendo o cuidado de manter as costas voltadas para o tronco. Não ousavam olhar para a grande planta face a face, pois, os que olhavam Iroko de frente enlouqueciam e morriam. Suplicaram a Iroko, pediram a ele que lhes desse filhos. Ele quis logo saber o que teria em troca. As mulheres eram, em sua maioria, esposas de lavradores e prometeram a Iroko milho, inhame, frutas, cabritos e carneiros. Cada uma prometia o que o marido tinha para dar. Uma das suplicantes, chamada Olurombi, era a mulher do entalhador e seu marido não tinha nada daquilo para oferecer. Olurombi não sabia o que fazer e, no desespero, prometeu dar a IroKo o primeiro filho que tivesse.

Nove meses depois a aldeia alegrou-se com o choro de muitos recém-nascidos. As jovens mães, felizes e gratas, foram levar a Iroko suas prendas. Em torno do tronco de Iroko depositaram suas oferendas. Assim Iroko recebeu milho, inhame, frutas, cabritos e carneiros. Olurombi contou toda a história ao marido, mas não pôde cumprir sua promessa. Ela e o marido apegaram-se demais ao menino prometido. No dia da oferenda, Olurombi ficou de longe, segurando nos braços trêmulos, temerosa, a filhinha tão querida. E o tempo passou. Olurombi mantinha a criança longe da árvore. Mas um belo dia, passava Olurombi pelas imediações do Iroko, entretida que estava, vindo do mercado, quando, no meio da estrada, bem na sua frente, saltou o temível espírito da árvore. Disse Iroko: "Tu me prometeste a menina e não cumpriste a palavra dada. Transformo-te então num pássaro, para que vivas sempre aprisionada em minha copa." E transformou Olurombi num pássaro e ele voou para a copa de Iroko para ali viver para sempre.

Olurombi nunca voltou para casa, e o entalhador a procurou, em vão, por toda parte. Ele mantinha a menina em casa, longe de todos. Todos os que passavam perto da árvore ouviam um pássaro que cantava, dizendo o nome de cada oferenda feita a Iroko. Até que um dia, quando o artesão passava perto dali, ele próprio escutou o tal pássaro, que cantava assim:

"Onikaluku jeje euwre,euwre,euwre

Onikaluku jeje agutan,agutan,bolojo

Olurombi jeje Omo re,omo re a pon bi epo

Olurombi o, jan-jan Iroko, Iroko, jan-ján

(Todo mundo promete cabra

Todo mundo promete ovelha bonita

Prometeu a filha bonita, uma abiku muito linda

Olorumbi não cumpriu o prometido a Iroko

Com isso perdeu tudo)

Ouvindo o relato de uma história que julgava esquecida, o marido de Olurombi entendeu tudo imediatamente. Sim, só podia ser Olurombi, enfeitiçada por Iroko. Ele tinha que salvar sua mulher! Mas como, se amava tanto sua pequena filha?

Ele pensou e pensou e teve uma grande idéia. Foi à floresta, escolheu o mais belo lenho de Iroko, levou-o para casa e começou a entalhar. Da madeira entalhada fez uma cópia do rebento, o mais perfeito boneco que jamais havia esculpido. O fez com os doces traços da filha, sempre alegre, sempre sorridente. Depois poliu e pintou o boneco com esmero, preparando-o com a água perfumada das ervas sagradas. Vestiu a figura de pau com as melhores roupas da menina e a enfeitou com ricas jóias de família e raros adornos. Quando pronto, ele levou a menina de pau a Iroko e a depositou aos pés da árvore sagrada. Iroko gostou muito do presente. Era a menina que ele tanto esperava!

E a menina sorria sempre, sua expressão, de alegria.

Iroko apreciou sobremaneira o fato de que ela jamais se assustava quando seus olhos se cruzavam. Não fugia dele como os demais mortais, não gritava de pavor e nem lhe dava as costas, com medo de o olhar de frente. Iroko estava feliz.

Embalando a criança, sua pequeno menina de pau, batia ritmadamente com os pés no solo e cantava animadamente. Tendo sido paga, enfim, a antiga promessa, Iroko devolveu a Olurombi a forma de mulher.

Aliviada e feliz, ela voltou para casa, voltou para o marido artesão e para a filha, já crescida e enfim libertada da promessa.

Alguns dias depois, os três levaram para Iroko muitas oferendas. Levaram ebo de milho, inhame, frutas, cabritos e carneiros, laços de tecido de estampas coloridas para adornar o tronco da árvore.

Eram presentes oferecidos por todos os membros da aldeia, felizes e contentes com o retorno de Olurombi..."

Até hoje todos levam oferendas a Iroko. Porque Iroko dá o que as pessoas pedem. E todos dão para Iroko o prometido..."

Esta bela ìtàn nos mostra como devemos tratar Iroko , sempre que lhe pedimos algo é de suma importância pagarmos o prometido pra não cairmos em seu desagrado , outra coisa é muito comum nas cidades nigerianas vermos em baixo do pé de Iroko geladeiras, bicicletas, jóias, etc... geralmente as famílias pagam a Iroko o que tem de mais valioso em sua casa.

II

Orixá protetor da natureza, filho de Odudua e Tempo, é responsável pela sustentação de toda a vida na Terra.

Irocô ( do iorubá Irocò ) influi na vida das pessoas no sentido de aprofundar as raízes, através de um desenvolvimento lento, que traz com o passar dos anos a solidez e a segurança.

Não é um orixá de incorporação, pois prefere ficar cuidando e zelando junto de seus filhos Iansã, Obá e Oxóssi.

Protetor da natureza, da vitalidade humana e da sustentação da vida material.

III

Não Devemos Quebrar Promessas Feitas aos Voduns

Esta é a história de um homem pobre que se chamava Kakpo. Esse fato aconteceu em Tendji. Há muito tempo, Loko era uma árvore sagrada. Havia um homem pobre que trabalhava com o machado. Ele cortava árvores para conseguir madeira. Um dia, encontrou uma árvore boa para cortar. Ele foi cortar Loko. Loko lhe disse: - Não me corte. Nenhum homem deve me cortar. Há três Voduns que vivem na árvore de Loko: Dan, Dangbe e Tohwivo, do clã de Ayato, uma vila em Abomey. Loko tem sete tipos de pequenas cabaças duplas. Loko disse ao homem: - Vire-se para mim. Se eu lhe der riquezas, você fará tudo que eu mandar? O homem lhe respondeu: - Sim! Loko deu-lhe sete das pequenas cabaças duplas e disse-lhe: - Encontre um bom lugar e quebre uma na terra. Se eu der as riquezas você me dará um boi anualmente? - Sim, respondeu o homem. Aquele lugar onde o pobre homem quebrou a primeira cabaça tinha se tornado sagrado. Quebrou então a segunda. Muitas casas apareceram. Quando quebrou a terceira cabaça as casas foram cercadas por paredes. Com a quarta, redes, bancos e almofadas apareceram, tudo que era necessário à um rei. Quebrou a quinta cabaça e viu muitas pessoas nas casas. Com a sexta surgiram cavalos. Montou um cavalo. Quando quebrou a sétima cabaça encontrou Fa e Legba, e não apenas as coisas para adorá-los. Mas Kakpo não deu a Loko o boi que lhe tinha prometido. Loko se transforma em um homem pobre, usando roupas de ráfia, e vai pedir água a Kakpo. Encontrou o Minga de Kakpo, que se tornou rei. O Minga disse: - Sai daqui! Que tipo de homem é você que veste-se com roupa de ráfia? E Loko foi afastado. Voltou uma segunda vez. O Minga surrou-o com um chicote. Loko foi embora. Voltou uma terceira vez. Os aldeões estavam ocupados em cultivar para o chefe. Bateram em Loko novamente. Desta vez, Loko começou a cantar uma canção: - "Ponham aqui as sementes, venham aqui e dancem para mim, seus dançarinos que dançam bem". Loko cantava assim e, enquanto cantou, todas as pessoas que cultivavam desapareceram. Kakpo ficou pobre outra vez. Loko deixou-o somente com um pano de ráfia. Fa retornou ao seu reino. Kakpo foi outra vez à Loko. Diante dele, encostou sua testa na terra e implorou que Loko o perdoasse. Disse: - Eu lhe darei o boi que havia prometido.

Mas Loko recusou. Kakpo e sua vila viveram o resto de suas vidas pobremente

IV

Iroco ajuda a feiticeira a vingar o filho morto

Iroco era um homem bonito e forte e tinha duas irmãs. Uma delas era Ajé, a feiticeira, a outra era Ogboí, que era uma mulher normal. Ajé era feiticeira, Ogboí, não. Iroco e suas irmãs vieram juntos do Orun para habitar no Ayê. Iroco foi morar numa frondosa árvore e suas irmãs em casas comuns. Ogboí teve dez filhos e Ajé teve só um, um passarinho.

Um dia, quando Ogboí teve que se ausentar, deixou os dez filhos sob a guarda de Ajé. Ela cuidou bem das crianças até a volta da irmã. Mais tarde, quando Ajé teve também que viajar, deixou o filho pássaro com Ogboí. Foi então que os filhos de Ogbói pediram à mãe que queriam comer um passarinho. Ela lhes ofereceu uma galinha, mas eles, de olhos no primo, recusaram. Gritavam de fome, queriam comer, mas tinha que ser um pássaro. A mãe foi então foi a floresta caçar passarinhos, que seus filhos insistiam em comer. Na ausência da mãe, os filhos de Ogboí mataram, cozinharam e comeram o filho de Ajé. Quando Ajé voltou e se deu conta da tragédia, partiu desesperada à procura de Iroco. Iroco a recebeu em sua árvore, onde mora até hoje. E de lá, Iroco vingou Ajé, lançando golpes sobre os filhos de Ogboí. Desesperada com a perda de metade de seus filhos e para evitar a morte dos demais, Ogboí ofereceu sacrifícios para o irmão Iroco. Deu-lhe um cabrito e outras coisas e mais um cabrito para Exú. Iroco aceitou o sacrifício e poupou os demais filhos.

Ogboí é a mãe de todas as mulheres comuns, mulheres que não são feiticeiras, mulheres que sempre perdem filhos para aplacar a cólera de Ajé e de suas filhas feiticeiras.

Iroco mora na gameleira branca e trata de oferecer a sua justiça na disputa entre as feiticeiras e as mulheres comuns.

[ Lenda 80 do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi ]

V

Iroco engole a devota que não cumpre a interdição sexual

Era uma vez uma mulher sem filhos, que ansiava desesperadamente por um herdeiro. Ela foi consultar o babalawo e o babalawo lhe disse como proceder.

Ela deveria ir à árvore de Iroco e a Iroco oferecer um sacrifício. Comidas e bebidas que ele prescreveu a mulher concordou em oferecer. Com panos vistosos ela fez laços e com os laços ela enfeitou o pé de Iroco. Aos seus pés depositou o seu ebó, tudo como mandara o adivinho. Mas de importante preceito ela se esqueceu. A mulher que queria ter um filho deu tudo a Iroco, quase tudo. O babalawo mandara que nos três dias antes do ebó ela deixasse de ter relações sexuais. Só então, assim, com o corpo limpo, deveria entregar o ebó aos pés da árvore sagrada. A mulher disso se esqueceu e não negou deitar-se com o marido nos três que precediam o ebó.

Iroco irritou-se com a ofensa, abriu uma grande boca em seu grosso tronco e engoliu quase totalmente a mulher, deixando de fora só os ombros e a cabeça. A mulher gritava feito louca por ajuda e toda a aldeia correu para o velho Iroco. Todos assistiam ao desespero da mulher. O babalawo foi também até à árvore e fez seu jogo e o jogo que o babalawo fez para a mulher revelou sua ofensa, sua oferta com o corpo sujo, porque para fazer oferenda para Iroco é preciso ter o corpo limpo e isso ela não tinha.

Mas a mulher estava arrependida e a grande árvore deixou que ela fosse libertada. Toda a aldeia ali reunida regozijou-se pela mulher. Todos cantaram e dançaram de alegria. Todos deram vivas a Iroco.

Tempos depois a mulher percebeu que estava grávida e preparou novos laços de vistosos panos e enfeitou agradecida a planta imensa. Ofereceu-lhe tudo do melhor, antes resguardando-se para ter o corpo limpo. Quando nasceu o filho tão esperado, ela foi ao babalawo e ele leu o futuro da criança: deveria ser iniciada para Iroco. Assim foi feito e Iroco teve muitos devotos. E seu tronco está sempre enfeitado e aos seus pés não lhe faltam oferendas.

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