quarta-feira, 3 de março de 2010

O Tarô e o Santo Graal

O Graal tem sido simbolizado por muitas coisas: um cálice, uma bandeja, uma pedra, uma jóia ou uma videira. Às vezes ele é tangível, com guardiões vigiando-o ou donzelas que zelam por ele, más geralmente é etéreo, aparecendo de diversas formas, incluindo a do próprio Jesus. Alguns de seus poderes são os de rejuvenescimento, conhecimento e provisão e assim como Jesus curava, ensinava e provia, o mesmo faz o Graal.

Apesar de uma origem ao mesmo tempo romântica e sagrada, as histórias do Graal sempre foram associadas a tradições pagãs, a blasfêmia e a mistérios profanos.

Na tradição pagã, o Graal era comparado aos caldeirões místicos do folclore celta. A Deusa Ceridwen tinha um pote que continha uma poção de grande conhecimento.

O recipiente do mistério para os antigos gregos, era o Krater, uma tigela de pedra para misturar vinho, que em termos filosóficos continha os elementos da vida. Platón fazia referencia a um krater que continha a luz do sol. Os alquimistas também tinham seu recipiente do qual nasceu Mercúrio, uma criança divina que simbolizava a sabedoria do vas-uterus, enquanto o recipiente hermético era chamado de “ventre do conhecimento”. È esse aspecto uterino da enigmática taça que é tão importante na ciência do Graal.

Por estas associações, a Igreja Romana condenou veementemente o Graal na Idade media, devido á suas fortes associações femininas. Todo o romantismo dos cavalheiros, as canções dos trovadores, ou qualquer outra manifestação romântica, eram desprezadas por Roma por que colocavam á mulher num pedestal de veneração, contrario á doutrina católica. Um motivo muito mais forte, porém, para a relutância da Igreja em aceitar a tradição do Sangreal deriva da linhagem especificamente messiânica da família do Graal, Maria Madalena teria escondido a sua gravidez quando Cristo foi crucificado.

Em sua função mais popular, o Santo Graal é identificado como cálice usado por Jesus na Santa Ceia. Após a crucificação, supostamente, ele foi prenchido com sangue de Jesus por José de Arimateia.

A tradição medieval conta que Jose de Arimateia levou o Santo Graal á Grã-Bretanha, enquanto lendas ainda mais antigas diziam que foi Maria Madalena a primeira em levar o Graal a Provença.

Em 1190 um escritor borgonhes, De Boron, classificou a relíquia como le Saint Graal: um “cálice de sangue sagrado”

Segundo o escritor, Jose de Arimateia, obteve o cálice da Passagem de Pilatos e recolheu o sangue de Jesus quando o tirou da cruz. Ele foi aprisionado pelos judeus, mas conseguiu passar o cálice ao seu cunhado, Hebrom, que viajou até os Vales de Avalon. Lá, ele se tornou Bron, o Rei Pescador. Bron e sua esposa Enygeus que era irmã de José de Arimateia, tiveram 12 filhos homens dos quais 11 se casaram e o décimo segundo permaneceu celibatário. Segundo a lenda, José de Arimateia construiu uma távola em honra do Graal. A partir de este fato existem outras versões em relação a távola e o lugar especialmente reservado para o cavalheiro virgem, em volta da távola redonda de Camelot, pertencentes ás lendas do Rei Artur.

Nas lendas originais do Graal havia constantes referencias á Família do Graal, á dinastia do Graal e aos guardiões do Graal. Lendas aparte os Cavaleiros Templários de Jerusalém eram de fato os guardiões da reliquia. O legado divino do Sangreal foi perpetuado nas casas soberanas e mais nobres da Grã-Bretanha e Europa, ainda existentes até hoje.

Estas historias relacionadas com o Graal, foram condenadas pela igreja depois da primeira inquisição católica do papa Gregório IX, em 1231. Como resultado, a tradição mudou para um simbolismo disfarçado, particularmente o das cartas de tarô.

Os quatro naipes dos Arcanos Menores do tarô eram as Espadas, as Copas, os Pentáculos e os Bastões. Eles correspondiam aos Símbolos Sagrados do Graal: espada, cálice, bandeja e lança. A misteriosa lança branca com sangue na ponta que geralmente acompanhava o Graal nas lendas, era identificada com a lança bíblica de Longino que derramou o sangue de Jesus na crucificação.

Estes símbolos para a igreja eram considerados blasfemos. Na realidade não havia nada de anticristão nas cartas, embora fossem decididamente anti-sistema.

As espadas eram originalmente uma lamina (símbolo masculino); o naipe de copas era um cálice da igreja alternativa (símbolo feminino); o de ouros era um valioso disco em um pentáculo (também representando um prato ou bandeja de servir); e o naipe de paus, denotava a continua linhagem de Davi (a videira).

Os segredos do tarô eram guardados em 22 cartas e se bem a igreja romana condenava os menores, expressamente proibia os trunfos porque também eram considerados blasfemos.

O Cristianismo do tarô era o da antiga cultura do Graal, não do Catolicismo. O fato de ciganos e outros grupos usarem as cartas de tarô para adivinhação, nada tinha a ver com seu propósito original, mas foi por esse uso secundario que a propaganda da Igreja conseguiu impregnar uma imagem sinistra ás cartas, utilizando-se da fama pagã dos ciganos.

As cartas modernas retêm o bobo-da-corte (curinga do tarô) ou o louco, que mesmo louco, sempre vence já que obtém sucesso naquilo em que os mais sofisticados falharam.

Seu legado vem de Corintos (1):

“…Nós somos loucos por causa de Cristo (4:10)”

Uma figura do tarô muito importante é o símbolo feminino da Justiça. Ela é a Virgem, com sua espada de duas pontas e a balança de Livra. A carta original mostrava a tênue posição da Igreja do Graal contra a severidade da inquisição romana, e era conhecida como a carta de Madalena.

Outras cartas associadas à Maria Madalena eram A Torre, O mundo e A Força. Na tradição do Graal, A Torre (ou casa de Deus) representava o Magdal-eder (ou Torre do rebanho, como em Miquéias 4:8) e não era diferente de uma torre do jogo de xadrez. Atingida por um raio, ou atacada misteriosamente de outra forma, A Torre, simbolizava a má sorte da Igreja Cristã nas mãos do cruel sistema romano.

O espírito de Maria Madalena também se manifestava em O Mundo; de pé ou dançando dentro de uma guirnalda oval, nua ou vestida, a mulher segurava o cetro ou outra marca de soberania. A figura era semelhante á imagem da Madalena subindo ao céu, em Livro das Horas, 1490.

A carta da Força mostra uma mulher dominando um leão, simbolizando o leão de Judá. Em outros tarôs, a mulher sustenta um pilar quebrado, correspondente ao pilar de Boaz do templo de Salomão.

Seja qual for à representação, a mulher era a responsável pela sucessão real e isso lhe conferia força, fato contrario á igreja romana.

Em alguns baralhos antigos, o desenho de um Graal era incorporado na imagem da carta da força, e a mulher era identificada com Maria Madalena.

A imagem representava a continuação da linhagem de Davi, como se vê no Salmo 89:4.

“Para sempre estabelecerei a tua posteridade e firmarei o teu trono de geração em geração”.

Vemos uma imagem muito interessante no Arcano 20: a trombeta que figurativamente dividiu a Igreja de Pedro.

E é importante saber que a palavra trunfo como se denomina aos Arcanos maiores deriva do velho termo francês trompe, que corresponde à trombeta.

Conforme detalhado na literatura medieval, o Graal era identificado com uma família e uma dinastia, o Sang Real (como se diz corretamente) significa sangue real, que é carregado no cálice uterino de Maria Madalena.

Um fato curioso é que entre as valiosas posses do Conde de Provença, René d`Anjou, cunhado do rei Carlos VI(século XV-XVI) havia uma taça egípcia de cristal vermelho, que ele obteve em Marselha. Continha uma inscrição:

“Aquele que beber bem, verá Deus

Aquele que beber tudo de um só gole verá Deus e a Madalena “

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