quinta-feira, 4 de março de 2010

Lendas de Ossayn

Ossain era o único orixá que sabia reconhecer e despertar os poderes mágicos das plantas e usá-los para curar as enfermidades, ou nos rituais litúrgicos. Ele sabia, como ninguém, fazer misturas mágicas com os vegetais, raízes e folhas.

Os outros orixás também tinham o desejo de possuir suas próprias folhas, bem como o conhecimento necessário para receber o axé proveniente delas, mas Ossain não revelava seus segredos e não deixava ninguém apanhar folhas em suas florestas.

Oyá (Yassan) não aceitava essa situação, pois sua aldeia estava sendo assolada por doenças, e nada podia ser feito. Foi, então, que ela pediu a Ossain que lhe desse algumas folhas e seus respectivos encantamentos, mas este negou-se a fazê-lo. Oyá ficou muito contrariada, não se conformando com uma atitude tão insensível. Sua fúria incontrolável fez levantar o vento. E o vento foi tão forte, que as folhas se desprenderam das árvores, voando para todos os cantos da floresta. Ossain gritava: "Minhas folhas, minhas folhas". A cabaça com os segredos ficou exposta por algum tempo, possibilitando aos orixás a oportunidade de absorver uma pequena parte desse conhecimento. Assim, os orixás cataram suas folhas, que seriam utilizadas em seus rituais sagrados; porém, não podiam dispensar a ajuda de Ossain, pois ele sempre será o grande sábio da floresta.

Outra lenda nos conta que Ossain trabalhava na roça de Orunmilá, que é um orixá fun-fun (da cor branca) e detentor do conhecimento do oráculo divinatório. Ossain tinha a tarefa de cultivar os campos, mas recusava-se a limpar o terreno para fazer a semeadura. Ele não conseguia podar as plantas, pois achava utilidade em todas elas. Essas folhas podiam curar todo tipo de doença existente.

Orunmilá, vendo que o serviço não saía, foi ver o que estava acontecendo.

Ossain explicou seus motivos, fazendo com que o grande orixá fun-fun percebesse estar diante de um ser encantado e de grande conhecimento. Ao invés de castigá-lo, deu-lhe uma posição de destaque dentro do oráculo de Ifá. Dessa forma, Orunmilá teria, perto de si, alguém para lhe revelar os segredos das folhas.

II

OSSAIN, O SENHOR DAS FOLHAS

Ossain recebera de Olodumaré o segredo das folhas.

Ele sabia que algumas delas traziam a calma ou o vigor.

Outras, a sorte, a glória, as honras ou ainda, a miséria, as doenças e os acidente.

Os outros orixás não tinham poder sobre nenhuma planta.

Eles dependiam de Ossain para manter sua saúde ou para o sucesso de suas iniciativas.

Xangô, cujo temperamento é impaciente, guerreiro e impetuoso, irritado por esta desvantagem, usou de um ardil para tentar usurpar a Ossain a propriedade das folhas.

Falou dos planos à sua esposa Iansã, a senhora dos ventos.

Explicou-lhe que, em certos dias, Ossain pendurava, num galho de Iroko, uma cabaça contendo suas folhas mais poderosas.

"Desencadeie uma tempestade bem forte num desses dias", disse-lhe Xangô.

Iansã aceitou a missão com muito gosto.

O vento soprou a grandes rajadas, levando o telhado das casas, arrancando árvores, quebrando tudo por onde passava e, o fim desejado, soltando a cabaça do galho onde estava pendurada.

A cabaça rolou para longe e todas as folhas voaram.

Os orixás se apoderaram de todas.

Cada um tornou-se dono de algumas delas, mas Ossain permaneceu senhor do segredo de suas virtudes e das palavras que devem ser pronunciadas para provocar sua ação.

E, assim, continuou a reinar sobre as plantas como senhor absoluto.

Graças ao poder (axé) que possui sobre elas.

III

Desde garoto, Ossain gostava mais de ficar sozinho vagando pela mata do que na companhia da família. Muito cedo, ele saiu de casa e foi morar no meio da floresta, onde se dedicou a estudar os poderes mágicos e medicinais das plantas. Depois de algum tempo, ele sabia tudo sobre o assunto e, quando alguém precisava de um remédio ou feitiço, recorria a ele.Mas ele guardava as folhas numa cabaça e não mostrava para ninguém. Os outros orixás ficaram aborrecidos por dependerem dele. Decidiram fazer alguma coisa, e Iansã se dispôs a resolver o problema. Foi ao encontro de Ossain e fez soprar uma ventania que derrubou a cabaça e espalhou as folhas. Então, cada Orixá correu e pegou um pouco para si. Ossain só conseguiu guardar as mais secretas, mas continuou dono do poder mágico, e por isso todos têm de lhe pedir licença para usar as folhas.

IV

Houve um rei que tinha três filhas muito bonitas. Quando elas chegaram à idade de casar, o rei disse que a mais velha casaria com quem adivinhasse o nome das três. Muitos pretendentes apareceram mas todos fracassaram; até que um dia chegou à cidade um rapaz que todos chamavam de Aroni, o aleijado, porque tinha uma só perna. O aleijado se apaixonou pela filha do rei e se apresentou como pretendente. O rei lhe deu um prazo de três dias. Passeando perto do palácio, o aleijado descobriu um arvoredo onde as princesas passeavam. Subiu num pé de Obi e, quando elas apareceram, fingiu ser o Deus da Árvore e deu a cada uma delas uma noz de cola. Em troca delas disseram seus nomes. No dia marcado, foi à presença do rei, matou a charada e casou com a princesa. Só então revelou que era Ossain, o deus das folhas.

V

Quando Ossain nasceu, os pais o deixaram nu. Por isso, ele cresceu cheio de ressentimento contra eles. Vivia mais na floresta que em casa, e assim aprendeu os segredos das folhas. Um dia, jogou um feitiço sobre o pai, que não conseguia respirar, e só o curou quando o pai lhe deu uma roupa e um gorro; e assim Ossain não precisou mais se vestir de folhas. Depois, jogou um feitiço na mãe, que ficou com dor de barriga; e só a curou quando ela lhe deu um pano listado. Quando teve um filho, Ossain teve medo de que ele o tratasse como ele tratara o pai; então, matou-o e fez um pó de seu corpo. Mais tarde, usou esse pó para curar o rei, que em recompensa o cobriu de honrarias.

VI

Quando Ossain trabalhou para Olorum, recebeu a função de ajudante do adivinho Orumilá. Mas como ele sabia muito sobre ervas medicinais, não quis ser inferior ao outro. Para testá-los, Olorum resolveu enterrar os filhos dos dois por 7 dias; o que respondesse primeiro quando fosse chamado, venceria. Orumilá consultou Ifá, que o aconselhou a fazer oferendas a Exu. Orumilá obedeceu e Exu mandou um coelho levar comida para Sacrifício ( o filho de Orumilá ). Remédio, o filho de Ossain, usou seu poder mágico para falar com Sacrifício, a quem pediu comida; este lhe deu, com a condição de que Remédio não respondesse quando o chamassem. Ele assim fez e Orumilá venceu a prova. Em agradecimento, compartilhou o poder de adivinhação com Exu.

VII

Quando Orunmilá veio ao mundo, quis um escravo para lavrar o seu campo. Comprou um no mercado. Era Ossayn. Quando Ossayn ia começar a sua tarefa de cortar as ervas, gritou: "impossível cortar esta erva, já que é muito útil" servia para baixar a febre; a segunda sanava as dores de cabeça, e também recusou cortar; a terceira acabava com as cólicas. E disse: "Em verdade, não posso arrancar ervas tão úteis.

Orunmilá tomando conhecimento da conducta do escravo, demonstrou o seu desejo de ver essas ervas, que Ossayn não queria cortar já que mantinham o corpo saudável e decidiu que Ossayn lhe poderia ser útil e por isso estaria sempre ao seu lado explicando-lhe as ervas, e as folhas no momento da consulta".

VIII

Como Òsanyìn descobre o nome das folhas.

Òrúnmílá dá a Òsanyìn o nome das plantas.

Ifá foi consultado por Òrúnmílá que estava partindo da terra para o céu e que estava indo apanhar todas as folhas. Quando Òrúnmílá chegou ao céu Olódùmaré disse, eis todas as folhas que queria pegar o que fará com elas ?

Òrùnmílá respondeu que iria usá-las, disse que, iria usá-las para beneficio dos seres humanos da Terra. Todas as folhas que Òrunmílá estava pegando, Òrúnmílá carregaria para a Terra.

Quando chegou à pedra Àgbàsaláààrin ayé lòrun (pedra que se encontra no meio do caminho entre o céu e a terra) Aí Òrúnmílá encontrou Òsanyìn no caminho.

Perguntou: Òsanyìn onde vai?

Òsanyìn disse; "Vou ao céu, disse ele, vou buscar folhas e remédios".

Òrúnmílá disse, muito bem, disse, que já havia ido buscar folhas no céu, disse, para benefício dos seres humanos da terra. Disse, olhe todas essas folhas, Òsanyìn pôde apenas arrebatar todas as folhas. Ele poderia fazer remédios (feitiços) com elas porém não conhecia seus nomes.

Foi Òrúnmílá quem deu nome a todas as folhas. Assim Òrúnmílá nomeou todas as folhas naquele dia.

Ele disse, você Òsanyìn carrega todas as folhas para a terra, disse, volte, iremos para terra juntos.

Foi assim que Òrúnmílá entregou todas as folhas para Òsanyìn naquele dia. Foi ele quem ensinou a Òsanyìn o nome das folhas apanhadas.

IX

Ossayn, o Curandeiro

Desde pequeno Ossayn andava metido mata a dentro. Conhecia todas as folhas, sabendo empregá-las na cura de doenças e outros males. Um dia Ossayn resolveu partir pelo mundo. Por onde andava era aclamado como o grande curandeiro.

Certa vez salvou a vida de um rei, que em recompensa deu-lhe muitas riquezas. Ossayn não aceitou nada daquilo; disse que aceitaria somente os honorários que seriam pagos a qualquer médico.

Tempos depois, a mãe de Ossayn adoeceu. Sendo procurado por seus irmãos e para espanto destes, Ossayn exigiu o pagamento de sete kauris por seus serviços, pois não poderia trabalhar para quem quer que fosse no mundo, sem receber algo. Mesmo contrariados os irmãos pagaram-lhe os sete kauris e sua mãe foi salva. Ossayn curou a mãe e seguiu caminho, pois ele é a folha e tinha que estar livre para o mundo.

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